Coroa de Espinhos e Idade Média
Redação
(Segunda-feira, 26-03-2018, Gaudium Press) De todos os
símbolos relacionados com a Paixão de Cristo Nosso Senhor, a Coroa de Espinhos
é a que tem mais significado depois da Santa Cruz. A coluna da flagelação, o
látego, o cetro de cana seca, os cravos, a lança, a tábua do INRI e outros que
a Virgem Maria, os Apóstolos e alguns discípulos guardaram, são relíquias de um
significado comovente, mas somente a Cruz poderia superar a Coroa de Espinhos
em veneração e apreço.
Ela foi a que
inspirou em 1241 São Luís IX, Rei da França, a construir um enorme relicário na
'Ile de la Cité' no rio Sena, onde Paris nasceu, e que hoje conhecemos como a
'Saint Chapelle', uma das mais belas expressões -senão a mais bela, da
arquitetura gótica. Guardá-la nessa capela real como um precioso tesouro da
cristandade, foi a ideia mais maravilhosa e sublime que tenha podido ocorrer a
um governante, que quiçá não intuía a apostasia de seus descendentes e de seu
próprio povo, séculos mais tarde. Aquele fato sozinho fez da França a nação
monárquica por excelência, e é muito simbólico que a guardiã dessa coroa fosse
precisamente a que deu o primeiro golpe mortal definitivo contra a monarquia na
Europa, para estabelecer um republicanismo sangrento que ainda não resolveu os
problemas políticos dessa nação.
Também foi a Coroa de
Espinhos que sugeriu a Godofredo de Bouillon, aquela frase inesquecível quando
lhe propuseram que ele se coroasse rei de Jerusalém após a ter recuperado dos
muçulmanos: "Eu não usaria uma coroa de ouro onde meu rei usou uma de
espinhos". Por isso, quando finalmente os reis latinos daquele pequeno
reino franco do oriente próximo, resolveram usar a coroa, a mandaram fazer em
ouro imitando uma de espinhos.
A Coroa de Espinhos
definitivamente é o símbolo do nosso rei. Onde quer que vejamos uma
representada imediatamente a relacionaremos com aquele momento histórico em que
uma vulgar soldadesca de classe baixa, fez uma paródia blasfema de coroação
ajustando-a violentamente na cabeça de Nosso Senhor, Rei dos Reis, Senhor dos
Senhores. Que distante estavam eles de imaginar que aquele ato infame de ódio e
escárnio, inspiraria nos séculos posteriores belas obras de inestimável
maestria pictórica, sinfonias, esculturas e outras maravilhas da arte e da
literatura!
No terceiro mistério
doloroso do santo rosário que Nossa Senhora ensinou a São Domingos de Gusmão,
contemplamos essa dolorosa cena que é acompanhada por um Pai Nosso, dez Ave
Marias e um Glória. Tampouco nisso pensaram judeus e romanos ofendendo a Deus
feito homem. Séculos e séculos repetimos e consideramos aquele momento
humilhante e doloroso para um homem, judeu de boa estirpe, santo varão que nada
lhe devia e passou por este mundo somente fazendo o bem.
Aquela geração hoje
feita poeira, e dos quais alguns mal recordam seus nomes para execrá-los,
cantou a vitória sem saber que estava sendo terrivelmente derrotada, e para
sempre. Pendurado em um madeiro, horrivelmente flagelado, empapado em seu
próprio sangue e com sua cabeça coroada de espinhos, triunfou e se tornou rei
até o fim do mundo Jesus Cristo Deus feito homem entre nós.
Se diz que São Luís
IX a recebeu na entrada da Paris murada daquela época, descalço e com o traje
de penitente. A levou, em uma almofada de veludo azul da França com várias
flores de lis de ouro, pelas ruas da cidade em uma procissão que comoveu em
lágrimas ao povo, para depositá-la temporariamente na própria capela de seu
palácio, enquanto mandava levantar aquele relicário gótico de cristal, pedras,
esmaltes coloridos e mármore para abrigar o símbolo do que é um governo
autêntico: aquele que está disposto ao sacrifício completo pelo bem de sua
nação. É impossível que um acontecimento como esse, não tenha tido uma
repercussão transcendental no Reino dos Céus, e hoje, recolhido aos esplendores
do Pai Eterno -como disse uma vez o Professor Plínio Corrêa de Oliveira, não
esteja à espera do dia que retornará à memória coletiva de toda a cristandade,
com o triplo da força do entusiasmo amoroso e agradecido com que foi recebida e
levada aqueles tempos de Fé da santa Idade Média, que o liberalismo tanto
caluniou, cuspiu e insultou como se fosse o próprio Jesus Nosso Senhor.
Por Antonio Borda
Traduzido por Emílio
Portugal Coutinho
Conteúdo publicado em gaudiumpress.org, no linkhttp://www.gaudiumpress.org/content/94042-Coroa-de-Espinhos-e-Idade-Media#ixzz5B8YCmdQ6
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